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As ruínas de Tipaza, Argélia

Ainda não vos falei das minhas viagens à Argélia, nem me lembro se já vos contei que o meu pai nasceu lá. De qualquer forma, foi por essa razão que lá fui (duas vezes), e, além de conhecer uma família XXL que nunca tinha visto “ao vivo”, pude visitar Argel (pelo menos um pouco), Boumerdès e, principalmente, as ruínas de Tipaza.

A Argélia não é muito (ou mesmo nada) um país turístico, o que é uma pena, porque parece haver imensas coisas bonitas para descobrir. As suas cidades, os seus monumentos, claro, o seu deserto, a fauna e a flora (cheguei mesmo a ver um golfinho bebé!).

É certo que normalmente prefere-se escolher outros destinos, mais “seguros” (mesmo que, no fundo, tudo possa acontecer em qualquer lado); no entanto, quis partilhar as fotos deste dia maravilhoso.

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Qual é a história das ruínas de Tipaza?

As ruínas de Tipaza (ou Tipasa) encontram-se a cerca de 60 km a oeste de Argel, pelo que é relativamente fácil visitá-las a partir da capital. Tendo sido, sucessivamente, uma cidade romana e cristã, oferecem uma grande diversidade nas suas ruínas e atestam a riqueza da sua história.

O sítio está dividido em duas partes: uma grande necrópole com a basílica funerária e um parque arqueológico. É possível descobrir vários vestígios, incluindo uma basílica e um teatro de dimensões consideráveis.

Confesso que é sobretudo a sua posição geográfica, entre mar e montanhas, que dá um interesse especial às ruínas. De facto, a visita desenrola-se num cenário natural magnífico: o oceano, uma terra ocre muito colorida, uma infinidade de oliveiras… O vento era tão forte que as folhas estavam completamente torcidas e com uma forma invulgar.

Um sítio classificado como Património Mundial da UNESCO

As ruínas de Tipaza são reconhecidas mundialmente pela sua importância histórica e cultural e foram inscritas na lista do Património Mundial da UNESCO em 1982. Este reconhecimento deve-se à riqueza e diversidade das civilizações que marcaram o local. De facto, Tipaza reflete um verdadeiro cruzamento cultural, em que as influências púnicas, romanas, cristãs e bizantinas se misturam de forma harmoniosa. As suas ruínas, que se estendem por uma paisagem costeira espetacular, são um testemunho vivo da história mediterrânica e da grandiosidade das civilizações antigas. Pode ler mais aqui.

Uma colónia romana estratégica

Tipaza não era apenas um lugar bonito, mas também um ponto estratégico do Império Romano. Após ter sido fundada pelos fenícios como porto comercial, foi colonizada pelos romanos em 46 a.C., tornando-se um bastião militar e econômico essencial. Situada à beira-mar, a cidade desempenhava um papel fundamental nas trocas comerciais e na expansão romana no Norte de África. Os vestígios das suas muralhas, portos e estradas ainda testemunham a sua posição privilegiada no coração das rotas marítimas e terrestres.

Uma mistura de culturas

Uma das particularidades mais fascinantes de Tipaza é a sua capacidade de contar a história de várias culturas que aí deixaram a sua marca. Os vestígios incluem templos romanos dedicados a divindades pagãs, uma basílica cristã da época pós-romana, termas onde os cidadãos se reuniam, um anfiteatro utilizado para espetáculos públicos, assim como necrópoles que testemunham práticas funerárias antigas. Esta mistura de estruturas arquitetónicas ilustra a coexistência e a evolução das civilizações que moldaram a região.

O túmulo real da Maurétania nas proximidades

A apenas alguns quilómetros de Tipaza, outro monumento notável que não deve perder é o túmulo real da Maurétania, também chamado de “túmulo da Cristã”. Este mausoléu imponente, construído por Juba II, rei da Maurétania, e pela sua esposa Cleópatra Selene II (filha de Cleópatra VII do Egito e de Marco António), é um símbolo do legado númida e das ligações entre o Norte de África e o mundo mediterrânico. Este túmulo circular, rodeado por uma paisagem espetacular, não é apenas uma obra-prima arquitetónica, mas também um lembrete das influências culturais que marcaram a região.

Um sítio inspirador para Albert Camus

Albert Camus, prêmio Nobel da Literatura, foi profundamente marcado por Tipaza, que descreve no seu ensaio Noces à Tipaza. Neste texto, celebra a beleza intemporal das ruínas banhadas pela luz e pelo sopro do mar. Camus vê Tipaza como um lugar onde o ser humano pode reconectar-se com a natureza e encontrar um equilíbrio entre o passado e o presente. Para os amantes da literatura, Tipaza é muito mais do que um sítio histórico: é uma fonte de reflexão e um símbolo da busca de sentido na simplicidade e na grandiosidade do mundo natural.

As ruínas de Tipaza em imagens

E como uma imagem vale mais que mil palavras… desfrutem!

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Em resumo, as ruínas de Tipaza oferecem muito mais do que um simples sítio antigo: é um lugar repleto de história, banhado pela luz e voltado para o mar. Entre vestígios romanos, natureza mediterrânica e uma atmosfera tranquila, Tipaza encanta tanto os curiosos como os sonhadores. Uma paragem imperdível para quem quer descobrir uma outra faceta da Argélia, tão pouco conhecida… Espero que tenham gostado desta descoberta… Já tinham ouvido falar dela?

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